VFRGS e o Carvão Nacional - Parte 1 <ANÁLISE DO CARVÃO>
Logo após encampar as linhas que formavam a VFRGS, em 1920, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul passou a se preocupar com o combustível que iria abastecer as locomotivas, pois até então as locomotivas utilizavam carvão importado ou madeira.
Anos antes, em 1905 o químico Somermeier analisou o carvão gaúcho e concluiu que era formado por 21,93% de cinzas, 11,52% de humidade, 26,75% de combustível volátil e 40% de carbono fixo e 2,72% de enxofre. Esta composição resultava em um carvão “fraco”, com pouco potencial de calor. Por isto a Companhia Minas de São Jeronymo, buscando melhorar a qualidade do carvão, contratou Edouard Urbain que apresentou um processo de melhoramento através da lavagem do carvão com água e óleo.
Os testes* concluídos pela VFRGS em dezembro de 1921, com as novas ALCO 2-8-2 Mikado (números 501-520), mostraram que mesmo com o processo de melhoramento, o carvão importado Norte Americano ainda tinha um potencial de vaporização de 52,58% maior que o carvão nacional, e ainda era 37% mais barato que o nacional. Com a promessa redução do custo do carvão nacional, a VFRGS estava modificando locomotivas para consumir o carvão gaúcho e comprando novas seguindo as especificações no nosso carvão.
Em 1922 a VFRGS consumiu 122.400 toneladas de carvão nacional, passando para 240.929 t em 1937 e em 1945 a chegou a adquirir 76% de todo o carvão produzido no RS.
*Durante os testes, foram comparados o consumo de locomotivas abastecidas com o carvão Importado contra o consumo do carvão nacional. O trajeto escolhido foi a linha Santa Maria –Porto Alegre.
*Texto originalmente publicado nos perfis da Amigos da Gare (@aGARE) no Instagram e Facebook, em 22/07/2020.
Mesmo com o custo elevado, a preferência pelo produto gaúcho foi percebida já na primeira aquisição de locomotivas feitas pela VFRGS pós encampação pelo governo do estado. Pois 19 das 20 locomotivas ALCO 2-8-2 Mikado (501-520) 1921, já vieram equipadas com grelhas móveis, cujo espaçamento dos dentes de adequava ao carvão nacional, além disso a grelha era dividida em duas partes, com movimentos independentes e contava com dois alçapões para a remoção das cinzas.
Este sistema facilitava a operação realizada pelo foguista e tornava mais eficiente a queima do carvão gaúcho.
Tão logo foram montadas já se iniciaram os testes comparativos utilizando as novas Mikado, algumas abastecidas com o carvão nacional e outras utilizando o importado, o trajeto escolhido foi a linha Santa Maria-Porto Alegre. As máquinas tinham escapamento fixo e vapor superaquecido, melhorando o consumo de carvão, água e aumentando o esforço de tração.
As Mikado foram encomendadas para o transporte de carga, mas com possibilidade para o transporte de passageiros, e tiveram ótimos resultados, alcançando velocidades elevadas em trens de passageiro e mesmo quando lotadas de carga venciam os aclives sem maiores dificuldades.
No início de 1922, a VFRGS já estava preparando as modificações para serem feitas na única das Mikado que possuía o sistema para queimar lenha e também para as novas locomotivas Pacific. Esta locomotiva se destinava originalmente a Estrada de Ferro Carlos Barbosa a Alfredo Chaves.
L.D.
*Texto originalmente publicado nos perfis da Amigos da Gare (@aGARE) no Instagram e Facebook, em 12/08/2020.